As mudanças culturais trazidas nas últimas
décadas através das TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação - são
irreversíveis. É uma perda de tempo imaginar o mundo sem dispositivos
eletrônicos, sem telefones e televisores inteligentes, sem aplicações que
reproduzem filmes e séries pela Internet, sem jogos em rede etc. Esses recursos
tecnológicos vieram de uma vez por todas, permanentemente.
É preciso se acostumar com a presença deles
entre nós, em nossas famílias, no ambiente de trabalho, nos colégios e
universidades, nas igrejas e reuniões pastorais etc.
No início desta transição cultural, eram
consideradas incômodas as pessoas que, em vez de oferecer atenção completa e
total (com comunicação visual), utilizavam as redes sociais, respondendo
mensagens. Na atualidade, a situação é contrária: incômodas são as pessoas que
ainda exigem das outras tal qualidade de atenção, ignorando que o ser humano
desenvolveu a capacidade da atenção múltipla, realizando diferentes atividades
ao mesmo tempo e se comunicando simultaneamente com várias pessoas de modo
presencial e virtual, por escrito, por imagens e por vídeos.
As pessoas idosas ou mais tradicionais
ainda são as que se sentem incomodadas. No entanto, muitos pais e educadores
têm-se adaptado à nova mentalidade e têm introduzido os recursos tecnológicos
na comunicação intra-familiar e educativa. O mesmo se pode afirmar a respeito
do ambiente de trabalho e eclesial - claro, sem prejuízo de produtividade nem
de resultados pastorais.
Entretanto, é evidente que nem a sociedade
nem as famílias têm sabido educar satisfatoriamente para o uso equilibrado e
saudável dos recursos tecnológicos. A atenção facilmente se dispersa, surge uma
espécie de dependência ou adicção às tecnologias, que gera ansiedade,
depressão, estresse, angústia, agressividade. Amizades, namoros e até
casamentos se desfazem, funcionários e operários são demitidos, alunos são
reprovados, a oração é esquecida, a vida se torna mais sedentária, os laços
familiares se enfraquecem, os círculos sociais se comprimem etc.
Profissionais da área da saúde psicológica
e da pedagogia e educação são unânimes em reafirmar a importância dos pais e
educadores na insistência da transmissão de valores, de modo mais prático e
vivencial que teórico, como família, amizade, comunicação afetiva, Deus,
contato com a natureza, visita a diferentes lugares e culturas, prática
artística e esportiva como espaço saudável de socialização, cuidado das pessoas
mais necessitadas e do meio-ambiente etc.
Para assegurar o aspecto prático e
vivencial, os pais e educadores, sim, podem e devem estabelecer limites de
tempo e de lugar para o uso dos recursos tecnológicos, especialmente para as
crianças, adolescentes e jovens, preferencialmente lhes consultando, evitando o
autoritarismo. Os lugares e tempos sem os recursos tecnológicos sejam ocupados
de modo positivo e estimulante.
Finalmente, as pessoas adultas precisam dar
o exemplo a fim de que as crianças, adolescentes e jovens sejam estimulados a
preferir o humano e natural ao mecânico e artificial, aprendendo e
redescobrindo a beleza e a superioridade de Deus, da família, da amizade, do
bem, da vida.
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